“A vida como um simples processo de começo, meio e fim”

 

20 de fevereiro – 21h15

De malas prontas, pego um uber para a casa de minha amiga. Nosso onibûs para o Rio de Janeiro parte as 23h30 na rodoviária Tiête. Minha amiga faz questão de chegar lá em cima da hora, o que me deixa nervoso e incomodado. As 23h40 entramos no onibus, alívio. A viajem começa gelada, o ar condicionado estava muito forte, e diferente de todos lá, eu não tinha uma manta ou sequer um casaco para me cobrir. O senhor que se sentava ao meu lado exalava um forte cheiro de cigarro, não me incomodava mais que o frio. Tomo um dramin e tento dormir.

 

22 de fevereiro – 8h30

Sou o primeiro a acordar da casa, bom momento para escrever. Depois de tomar água e comer um mamão com granola coloco o álbum do Djavan para tocar, também na intenção de já ir acordando as outras pessoas. Começo a me lembrar do bloco em que fui ontem no Jardim Botânico, um calor insuportável. É incrível como os principais elementos do Carnaval brasileiro se encontravam lá: pessoas fantasiadas, bêbadas, vendedores ambulantes gritando, música vindo do trio que comandava a festa e o mais incomodo, ver a quantidade de assédios sofridos por minhas amigas. Me questiono se cabe a mim interferir nos comentários fúteis e toques indesejados sofridos por elas, ou deixa-las que se defendam. Elas fazem isso muito bem, vou ficar na minha.

 

23 de fevereiro – 7h13

Sou o primeiro a acordar novamente, mas desta vez sei o porque. Durmo com a janela do meu quarto aberta, a luz é o meu despertador. Já sinto meu corpo abalado de ontem e meu estômago um pouco mais frágil. Talvez eu só esteja descrevendo a ressaca de um jeito diferente.

12h30

Enquanto meus amigos tomam banho volto a escrever na companhia do maravilhoso ar-condicionado. O bloco hoje é no centro, o que me deixa mais ansioso. A volta do café da manha que tomamos em uma padaria de esquina me deixou mais feliz, principalmente pela rápida parada para um mergulho no mar. A água do Rio de Janeiro é mais gelada que a do litoral paulista, os vendedores de biscoito globo e chá mate junto a vista dos Dois Irmãos e o morro do Vidigal formam a clássica e encantadora paisagem carioca.

 

27 de fevereiro – 6h33

A vista agora é da estrada. Já no carro do meu amigo, iniciamos nossa viagem de 7 horas de volta para São Paulo. O fato de não ter trânsito nos alivia, e meu corpo agora se encontra definitivamente desgastado e com dores. Sinto que toda volta de viagem é meio deprimente, mas sempre aliviada pela reconfortante sensação de chegar em casa depois de um tempo fora.  Por mais que o sono não me permita pensamento profundos e complexos, minha cabeça é bombardeada por um milhão de coisas, desde minha ex-namorada que agora já não vejo há duas semanas, até todos os intensos acontecimentos do feriado. Começo a notar a variação de qualidade da minha caligrafia ao longo deste diário, é engraçado, desde de letras que fiz com capricho ao começar de um dia, até coisas que parecem ser escritas por uma criança de 11 anos.

 

28 de fevereiro – 11h44

Pela primeira vez nos últimos 6 dias acordo tarde e descansado, o que é curioso já que ontem foi o primeiro dia que não fui dormir tarde no feriado. Ao olhar pela janela já me relembra de muita coisa, o céu nublado de São Paulo automaticamente me lembra de obrigações relacionadas a faculdade e a família. Preciso me arrumar, comer e ir visitar minha avó. Ir visita-la sempre é um pouco incomodo e triste, 97 anos não é moleza. Tento fixar em minha cabeça que toda vez que vou lá pode ser a última que a vejo. A conversa é baseada em falar extremamente alto para ela conseguir ouvir e relembra-la de que já estou na faculdade, estudo jornalismo e ligar para meu primo (a coisa que mais a deixa feliz). Não demonizo e nem vejo a morte como algo ruim, é preciso entender a vida como um simples processo de começo, meio e fim.

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